terça-feira, 15 de janeiro de 2008

"A Camélia"

Gosto de textos, que unam a retórica do autor, com a capacidade de nos fazer rir através de um bom jogo de palavras e idéias ou um tema denso que toque no mais profundo de nossa emoção. Desta vez coloco no blog, um texto de Antônio Prata, no mínimo interessante, e que com certeza vale a pena ser lido, vamos a ele:

Jesus voltou num domingo, começo de dezembro, as dez da manhã, na Praça General Osório. O porquê da data, do local e do horário é mais um desses mistérios inescrutáveis, tão ao gosto do Senhor, sobre o qual se debruçariam os teólogos nos séculos vindouros, não tivessem os mistérios, os teólogos e os séculos vindouros ido para cucuia, pouco depois daquele domingo.
O fim do mundo estava marcado para quarta feira de cinzas de 2008 - mais por coincidência que por ironia, provavelmente, visto que o humor nunca fora muito a praia de Yaweh - e Jesus tinha, portanto, pouco mais de dois meses para arrebatar as almas desgarradas e salvá-las do fogo eterno.
Ao contrário da última visita, quando conquistou discípulos e respeito perambulando pela Galiléia, Cafarnaum, Naftali, Iduméia, Jerusalém, Decápolis, Dalmanuta, Betsaida, Tiro, Sidom, Grande Judéia e arredores, em Ipanema as coisas desandaram logo de cara. Nem bem chegou a praça - estava arregaçando as mangas de algodão cru e lembrando-se de como era imprópria para os dias quentes - foi confundido com Túlio Rasta.
Túlio Rasta vinha passando fumo na General Osório havia duas semanas, para desgosto de três peruanos que dominavam o ramo de parangas desde 1988 - além de tocar "Yesterday", "Coração de estudante" e outros grandes sucessos da música pop em flautinhas de bambu, acompanhados pelo auxílio nada luxuoso de um teclado Yamaha. Os três incas furibundos partiram pra cima de Jesus e deram-lhe uma sova para centurião nenhum botar defeito....

...Continua...

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