terça-feira, 15 de janeiro de 2008

"A Camélia - Parte III"

Marchando lento, com aquela serenidade calculada que dava tanta credibilidade aos seus milagres, Jesus viu flashes vindo de todas as direções, os gritos das crianças nas margens e, quando chegou ao outro lado, lá no Clube dos Caiçaras – um séqüito de cisnes – pedalinhos o seguindo, como o rastro de espuma deixado por um transatlântico – achou que o jogo estava ganho. Só quando ouviu um gordinho, detrás do algodão-doce lilás, dizer ao pai que tinha “preferido o ano-passado, quando teve o Papai Noel de Jet Sky”, O Cordeiro entendeu o tamanho do problema.
Encolhido no mato, no Parque da Catacumba, pela segunda vez na vida, Jesus chorou. Já havia enfrentado tempestades e grilhões, chibatadas e espinhos, pregos, a traição de Judas e as três negativas de Pedro, mas para o desdém, ele não estava preparado. Passou dias e noites sem pregar o olho, orando por uma luz, bebendo somente a água da chuva e alimentando-se de grilos e tatus-bola. Até que no trigésimo dia, a ajuda apareceu.
Adilson Costa era entertainment manager, como informava o cartão, e tinha em seu plantel dois ou três atores de “malhação”, uma banda de country-gospel e alguns artistas mirins. Havia visto Jesus no You Tube e achava que ele tinha muito potencial para vencer o quadro “se vira nos trinta”, do Faustão. Jesus, não sabendo a quem recorrer e afundando cada vez mais em sua onipotência, topou...

Continua...

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