terça-feira, 15 de janeiro de 2008

" A Camélia - parte II"

Jesus ficou quebrado, mas não desanimou. Já tinha pagado muito mais caro pelo erro dos outros no passado, não seriam bordoadas que iriam jogá-lo para baixo. Além do mais - pensava ele, enquanto curava as feridas, escondido no Parque da Catacumba - da outra vez também teve seus perrengues no início; a perseguição de Herodes, as tentações do demônio no deserto, o ódio dos vendilhões do templo.
Uma vez recuperado, o Ungido foi a Copacabana multiplicar pães. Pode ter sido azar, audácia do tinhoso ou nunca se sabe, vontade do Pai, mas bem naquele dia havia uma blitz, motivada pela manchete do jornal que acusava os ambulantes pela internação de 11 turistas suecos. Como Jesus não portava alvará para o setor de panificação e os fiscais sentiram-se desacatados por sua resposta – “Têm as aves dos céus alvará para voar? E, no entanto, não as sustenta nas alturas nosso Pai celestial?” – foi jogado no xadrez. Apesar da contravenção e da confusão que causou no interrogatório, respondendo a tudo por meio de parábolas, foi posto em liberdade uma semana depois.
Tinha sido um erro começar pela multiplicação, pensou. Alimento é bom para fidelizar o público, mas como chamariz andar sobre as águas sempre fora mais eficiente. Foi direto para a Lagoa Rodrigo de Freitas, onde centenas de famílias se aglomeravam num fraternal engarrafamento para ver a Árvore de Natal. Tirou as sandálias e, ali na altura da Curva Calombo deu início à caminhada...

... Continua...

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